UFERSA pesquisa polêmica

Higo Lima - Jornal de Fato

Mossoró - O sacrifício de 30 bezerros em uma pesquisa da Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa) levantou a discussão quanto ao uso de animais em pesquisas científica. O assunto se amplificou nas redes sociais ao ponto de retardar o andamento da pesquisa da professora doutora Patrícia de Oliveira Lima, que pretende estudar o "Aleitamento Artificial de Bezerros com soro de queijo in natura em associação ao colostro", como denomina o título do projeto.

                                                                                                                                        Josivan Barbosa, reitor da 
Ufersa, propõe métodos de pesquisa que não exponham animais ao 
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Josivan Barbosa, reitor da Ufersa, propõe métodos de pesquisa que não exponham animais ao sofrimento

Depois da repercussão, a reitoria da Universidade suspendeu o andamento do cronograma da pesquisa até que os órgãos de Ética e a Procuradoria Geral da União se posicionassem sobre o assunto, que surgiu motivado por denúncia. A reportagem conversou com a professora Emanuelle Fontenele Rabelo, vice-presidente da Comissão de Ética no Uso de Animais que explica os caminhos da pesquisa científica e os trâmites de um projeto como o proposto pela professora Patrícia Lima.

Segundo ela, para que um projeto desta natureza possa ser realizado é necessário um parecer favorável da comissão de Ética que, entre diversas questões burocráticas avalia a procedência dos animais. "Se for preciso usar animais em pesquisas é preciso uma documentação do órgão competente (Ibama, por exemplo) validando a procedência e autorizando o uso do animal", explica ela.

Os parâmetros são definidos por legislações específicas como a Lei de Crimes Ambientais e a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, editada pela Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU). Neste último documento, é previsto que "A experimentação animal, que implica sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra".

Quanto a este último ponto, a vice-presidente da comissão esclarece que, em caso de aprovação do uso dos animais, incluindo os para eutanásia, suas condições devem ser acompanhadas para evitar sofrimento, garantir alimentação adequada e condições de existência compatíveis com as previstas pela Lei.

"Os membros da comissão acompanham o cronograma da Pesquisa para fiscalizar os direitos dos animais e a veracidade das informações repassadas pelo projeto".

E quanto à morte do animal? Depois do parecer pedido pela Reitoria, a comissão aprovou o procedimento, posição que foi seguida pela Procuradoria Geral da União. No entanto, como a decisão ainda depende do reitor Josivan Barbosa, a documentação foi encaminhada para o Conselho da Universidade que deverá se posicionar nos próximos dias.

A professora Emanuelle Fontenele Rabelo ressalta que uma das exigências para o procedimento da eutanásia é o não sofrimento do animal. "É preciso que o pesquisador busque o método que não exponha o animal à dor. O procedimento, inclusive, é acompanhado de um membro da Comissão para assegurar o local adequado e os métodos corretos".

Pesquisa avalia qualidade da carne bovina

Para que um animal seja submetido à pesquisa, sobretudo a eutanásia, eles devem ser oriundos de criadouros específicos em criação para uso científico. Ou seja, existem instituições especializadas em reprodução de animais para uso de cobaia. "Não se pode simplesmente tirar um animal do seu habitat natural e expô-lo à ciência, sobretudo porque compromete o resultado da pesquisa", reforça professora Emanuelle.

A comissão recebe, em média, de 10 a 15 projetos de pesquisa mensalmente com uso de animais, não necessariamente submetendo-os à morte. No entanto, o reitor Josivan Barbosa propõe que as pesquisa busquem métodos que não exponham o animal à eutanásia. "O professor pode consultar na bibliografia um método para obter o seu resultado sem que seja condicional submetê-los à morte".

De acordo com os objetivos apresentados pela professora Patrícia Lima no projeto, a intenção de usar os 30 bezerros é, entre outros pontos, avaliar o rendimento de carcaça dos cortes de vitelos; avaliar a qualidade da carne de bezerros para viabilizar a produção de vitelos e a eficiência econômica das dietas testadas.

"A pesquisa da professora ganhou repercussão com a disseminação de informações desencontradas. Não há nenhuma irregularidade, tanto que a Procuradoria se posicionou favorável com base na Comissão de Ética."

Universidade tem 58 projetos em andamento

A polêmica com o uso de animais para pesquisas científicas veio à tona especificamente com esse projeto da Ufersa, mas inúmeros são os projetos com esta natureza. Somente no Departamento de Ciências Animais, cinquenta e oito projetos estão em andamento (sem necessariamente utilizar eutanásia com animais e outros tipos de cobaias) com financiamento de órgãos externos da Universidade, incluindo a pesquisa com os bezerros. Há ainda outras 75 iniciativas em execução na Universidade, por este departamento, sem financiamento.

A Ufersa tem projetos financiados tanto por empresas do setor privado quanto do público. As maiores financiadoras são Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (Fapern).

Somente na Universidade Federal do Semiárido estão em execução 372 pesquisas entre todos os departamentos, sendo que apenas 168 recebem algum tipo de financiamento. As pesquisas ganharam novo impulso com o fortalecimento das universidades públicas pelo governo nos últimos anos.


FONTE: tribunadonorte

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